O rapazio, do lado esquerdo da imagem, acompanha a marcha dos soldados entre o medo e o espanto da movimentação. Verifico a cor da pele deles, muito meridional. Mas fixemo-nos agora no casal da frente.
A rapariga, de rosto muito fino e estatura mediana, tem os olhos semicerrados. O soldado pega meigamente no queixo da mulher prestes a rebentar em choro, após o último beijo. Eles sabiam que a despedida podia não ter regresso. Na mesma mão onde segura o guarda-chuva, tem um pequeno embrulho preso por corda. Não se sabe se o embrulho se destinava ao soldado, já de mochila às costas, de um pequeno haver dela ou de peça de roupa para entregar a uma cliente (efabulemos que ela era costureira).
À parte estes dramas pessoais, o quadro deve ser compreendido ao nível mais vasto da sociedade. Depois de se ter comprometido com o país que não enviaria tropas para a frente da batalha da Primeira Guerra Mundial, Afonso Costa, primeiro-ministro, mudou de ideias. O país atravessava uma conjuntura política e económica difícil; melhor não ficou, arrastando-se por entre o descontentamento e a escassez de bens de primeira necessidade, enquanto chegavam as notícias das primeiras baixas em combate. A repressão interna teve lugar no Verão e Outono desse mesmo ano de 1917. No final do ano, Sidónio Pais assumia o poder, instaurando uma ditadura militar (no final de 1918, Sidónio seria assassinado).
Possivelmente, o namorado daquela mulher ainda muito jovem (19 anos? 20 anos?) não regressou ao cais da estação de Santa Apolónia. Qual terá sido o percurso da rapariga? Arranjou outro namorado, casou e teve filhos? Ou ficou viúva para toda a vida? Que alegrias teria, passados os anos de juventude?
2 comentarios:
O meu comentario ten que ver coa fotografía: parece mesmo unha composición, con dous flancos (soldados e xente) que enmarcan a escea principal, un representante de cada "bando" se aproximaron e estanse a despedir. Encántanme estas fotos históricas con tan bo encadre e que tanto contan.
Si, a min tamén me encanta. Respecto da composición haique ter en conta que tamén hai civís no outro lado da rúa.
Para entendela hai que ter en conta a data, 1917, cando xa ían tres anos de matanza e os recrutas e a xente xa non amosan o inxenuo e lamentable entusiasmo de 1914. Agora os soldados xa saben que non é unha aventura e a xente despídeos con tristura, acompañádoos no sentimento.
Que parvada levou aos portuguese ás trincheiras?
Publicar un comentario